Assim como a cidade de Corinto, que está no centro
geográfico exato de Minas Gerais, e a cidade de Palmas, que está no centro
geográfico exato do Brasil, aquele pé de manga estava no centro geográfico exato
do quintal da minha casa. A exatidão era quase capilar. Para as crianças não
fazia muito sentido chamar o pé de manga de mangueira. Mangueira já estava bem
definido como o objeto que levava a água da torneira do pé da escada até
qualquer lugar da nossa casa e que, às vezes, mamãe deixava a gente usar para
limpar o quintal. Normalmente era com a vassoura que varríamos aquele quintal enorme na beira do rio. O pé de manga adquiriu muitas funções
ali em casa, desde as mais óbvias, que eu me recuso a citar aqui, até as mais
inapropriadas. Era ele quem dificultava entrar em uma das vagas da garagem. Ela
ele que servia de abrigo para os morcegos mais sinistros do meu universo.
Também era o responsável por sujar o chão cada vez que caia uma fruta. E como
mamãe evitava deixar a gente limpar com água, ficava tudo mais difícil na hora de varrer. Para mim, o
pé de manga era responsável por dois desafios pessoais. Meu irmão mais velho,
arquiteto quando adulto, construiu três tablados de basquete. Não me lembro
dele jogar em nenhum. Ele gostava era de projetar, assim como fez com
os carrinhos de rolimã e também com o campo de golfe cujos buracos eram potes
de margarina e os tacos um combinado de canos e vergalhões. Duas das cestas em
extremidades do quintal. Uma no portão vazado da garagem e outra mais pra perto
do rio Itapemirim. A terceira ficou no centro geográfico exato entre essas
duas: o pé de manga. Era a mais alta, mais difícil para qualquer um dos quatro
filhos e inúmeros vizinhos acertarem. Se na cesta perto do rio eu acertava e na
do portão eu era capaz de enterrar a bola, na do pé de manga eu sequer lançava
a bola naquele aro feito a partir de uma cesta de lixo. Se o desafio esportivo
parecia inatingível, mais impossível ainda era conseguir entender porque no
alto do pé de manga ainda permanecia uma corda azul como a abraçar um daqueles
gordos galhos. Aquela corda azul e um pedaço de borracha minúsculo preso na sua
ponta não saiam da minha imaginação. Possivelmente da única vez que questionei,
me explicaram que aquela corda servira outrora para pendurar um balão de doces
e brinquedos de um dos aniversários de um dos meus irmãos. Cresci imaginando
como deve ter sido a festa e como teria sido o momento em que os presentes
estouraram o balão e tudo se espalhou pelo chão, com os meninos em guerra por
qualquer coisa que dali pudesse aparecer. Deve ter sido divertido. Não sei se
já estava no mundo nesse dia, possivelmente no colo de minha mãe ou de minhas
tias. Lembro que só brinquei disso uma vez na vida, no aniversário de um amigo
meu. Era baixo. Foi fácil para o Gabriel estourar, fazendo eu ter certeza de
que aquele do meu pé de manga era muito maior. Do tamanho dos sonhos que
recheavam a minha cabeça ao olhar para o alto.
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