Por que
choramos? Em recente matéria publicada pelo The Guardian, alguns pesquisadores
tentam explicar o fato de, por exemplo, meu avô ter se derretido em lágrimas
quando Ronaldo Fenômeno ganhou o prêmio de melhor do mundo em 1996. Era verão e
estávamos, eu e ele, na sala da casa de minha mãe em Marataízes, eu tinha 11 anos
e a gente tinha acabado de dar uma volta para tomar um Guaraná. Eu, guri,
fiquei surpreso quando reparei que dos olhos do meu avô saiam lágrimas quando
anunciaram o nome do brasileiro. Fiquei espantado. “Como pode chorar por alguém
tão distante?”, pensei. No livro “Why Only Humans Weep”(Por que só os Humanos Choram),
que ilustra a reportagem, há algumas tentativas para explicar o motivo do choro
do meu avô. Apresentam exemplos da evolução do estudo do choro: desde os
macacos aquáticos que precisavam se adaptar à água salgada; a necessidade de se
comunicar entre os pares em situação de perigo sem realizar ruídos que pudessem
chamar atenção dos predadores; a lágrima como importância social; a impotência
da infância, quando somos mais vulneráveis; e o fato de, apesar de quase todos
os mamíferos chorarem, apenas os seres humanos manifestam essa reação na fase
adulta. Taí meu avô que não deixa os cientistas mentirem. A matéria termina com
uma constatação realmente esclarecedora. Os seres humanos preferem chorar na
presença de outra pessoa. "Tears are less important when you are alone
because there is no one to witness them" (“As lágrimas são menos
importantes quando você está sozinho porque não há ninguém para testemunhá-las”),
afirma o pesquisador Ad Vingerhoets. Não há vergonha no choro. Muito mais do
que uma questão de parentesco, entendo perfeitamente o por quê sou neto de meu
avô.
A CartaCapital traduziu a reportagem em uma
recente edição.