domingo, 7 de outubro de 2012

A primeira vista é para os cegos


“a distância inventa cidades, como muito bem sabemos. Por essa razão é que eu nunca me esqueço daquele aviso que alguém um dia deixou nesta varanda de curiosos: A primeira vista é para os cegos!”
 PIRES, José Cardoso. Lisboa, Livro de Bordo — Vozes, Olhares, Memorações

sábado, 22 de setembro de 2012

O pé de manga


Assim como a cidade de Corinto, que está no centro geográfico exato de Minas Gerais, e a cidade de Palmas, que está no centro geográfico exato do Brasil, aquele pé de manga estava no centro geográfico exato do quintal da minha casa. A exatidão era quase capilar. Para as crianças não fazia muito sentido chamar o pé de manga de mangueira. Mangueira já estava bem definido como o objeto que levava a água da torneira do pé da escada até qualquer lugar da nossa casa e que, às vezes, mamãe deixava a gente usar para limpar o quintal. Normalmente era com a vassoura que varríamos aquele quintal enorme na beira do rio. O pé de manga adquiriu muitas funções ali em casa, desde as mais óbvias, que eu me recuso a citar aqui, até as mais inapropriadas. Era ele quem dificultava entrar em uma das vagas da garagem. Ela ele que servia de abrigo para os morcegos mais sinistros do meu universo. Também era o responsável por sujar o chão cada vez que caia uma fruta. E como mamãe evitava deixar a gente limpar com água, ficava tudo mais difícil na hora de varrer. Para mim, o pé de manga era responsável por dois desafios pessoais. Meu irmão mais velho, arquiteto quando adulto, construiu três tablados de basquete. Não me lembro dele jogar em nenhum. Ele gostava era de projetar, assim como fez com os carrinhos de rolimã e também com o campo de golfe cujos buracos eram potes de margarina e os tacos um combinado de canos e vergalhões. Duas das cestas em extremidades do quintal. Uma no portão vazado da garagem e outra mais pra perto do rio Itapemirim. A terceira ficou no centro geográfico exato entre essas duas: o pé de manga. Era a mais alta, mais difícil para qualquer um dos quatro filhos e inúmeros vizinhos acertarem. Se na cesta perto do rio eu acertava e na do portão eu era capaz de enterrar a bola, na do pé de manga eu sequer lançava a bola naquele aro feito a partir de uma cesta de lixo. Se o desafio esportivo parecia inatingível, mais impossível ainda era conseguir entender porque no alto do pé de manga ainda permanecia uma corda azul como a abraçar um daqueles gordos galhos. Aquela corda azul e um pedaço de borracha minúsculo preso na sua ponta não saiam da minha imaginação. Possivelmente da única vez que questionei, me explicaram que aquela corda servira outrora para pendurar um balão de doces e brinquedos de um dos aniversários de um dos meus irmãos. Cresci imaginando como deve ter sido a festa e como teria sido o momento em que os presentes estouraram o balão e tudo se espalhou pelo chão, com os meninos em guerra por qualquer coisa que dali pudesse aparecer. Deve ter sido divertido. Não sei se já estava no mundo nesse dia, possivelmente no colo de minha mãe ou de minhas tias. Lembro que só brinquei disso uma vez na vida, no aniversário de um amigo meu. Era baixo. Foi fácil para o Gabriel estourar, fazendo eu ter certeza de que aquele do meu pé de manga era muito maior. Do tamanho dos sonhos que recheavam a minha cabeça ao olhar para o alto.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Sem título

Ele a queria tanto que, mesmo sem saber que ela iria, foi lá só para encontrá-la.